Áreas de Pesquisa
Parque Nacional do Viruá1
O Parque Nacional do Viruá (PNV) possui uma área total de 214.950,52 hectares e foi criado em 29 de abril de 1998, em atendimento a compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção da Diversidade Biológica, para proteger amostras dos ecossistemas da região centro-sul de Roraima, onde predominam as campinaranas, termo que designa uma fitofisionomia que ocorre em áreas de solos arenosos e muitas vezes hidromórficos. Localizado no município de Caracaraí, centro-sul de Roraima, na margem esquerda do rio Branco, a cerca de 200 km ao sul de Boa Vista (61°00’08,28”W, 01°29’25,24”N), o parque abrange um mosaico de florestas aluviais, campinaranas (white sand forests) e florestas de terra firme, em uma região com características típicas de um pantanal, no norte da Amazônia.
No contexto regional, o Parque faz parte da Região Ecológica de Campinaranas, que se estende pelas bacias dos rios Negro, Branco e Orinoco, cobrindo áreas da Amazônia brasileira, colombiana e venezuelana. Recentemente, o parque recebeu o título de Sítio Ramsar, através da Convenção das Áreas Úmidas em 22 de março de 2017, tornando-se reconhecido mundialmente como sítio de importância internacional para a conservação da biodiversidade. O PNV é marcado por alta heterogeneidade ambiental, com uma grande variedade de fisionomias associadas à topografia, hidrologia e solos. Situado na região de mais fácil acesso do Pantanal Setentrional, o parque funciona como um centro de referência para pesquisas ecológicas de longa duração, e tem a missão de integrar atividades de pesquisa e conhecimentos de biodiversidade ao desenvolvimento local. Experiências de turismo de base comunitária estão sendo estimuladas, para assegurar a participação das comunidades no desenvolvimento do turismo no Parque Nacional do Viruá e entorno.
A vegetação predominante é a campinarana (floresta de areia branca), com extensas áreas de florestas aluviais (florestas de várzea e igapó) e enclaves florestais do continente que incluem Florestas Ombrófilas de Planície Aberta, bem como pequenos enclaves de Florestas Submontanas Ombrófilas Abertas em colinas residuais isoladas. O PNV apresenta alta diversidade florística, com 1262 espécies de plantas registradas, incluindo 1149 angiospermas e 110 pteridófitas (ICMBio, 2014). Os tipos de solo que predominam no PNV são arenosos, pobres em nutrientes, pouco drenados e desenvolvidos sobre extensas planícies sedimentares (neossolos quartzicos hidromórficos e espodossóis húmicos hidromórficos). A baixa altitude da terra (entre 45 e 60m) causa inundações periódicas devido à elevação do lençol freático ou ao acúmulo de água da chuva, cujo fluxo é dificultado pela presença em profundidade de camadas cimentadas por óxidos de ferro, óxidos de alumínio e matéria orgânica (Mendonça et al., 2014). A baixa capacidade de armazenamento de água desses solos causa déficits extremos de água durante o mar seco. PNV está em uma zona de transição climática (Aw-Am pelo sistema de classificação Köppen) com o pico do período seco entre janeiro e março e a estação chuvosa entre maio e agosto (Schaefer et al., 2008).
Estação Ecológica de Maracá2
A Estação Ecológica de Maracá (EEM) foi criada em 1981 e abriga um arquipélago com mais de duzentas ilhas, entre elas, a ilha Maracá, a terceira maior ilha fluvial do Brasil. A maioria dos arquipélagos fluviais é formada pela deposição irregular de material de fundo que viaja rio abaixo em dunas subaquáticas. Maracá é uma exceção à regra. A EEM está localizada no rio Uraricoera (371.952 N, 675.204 L), um dos principais afluentes do rio Branco, o principal rio de Roraima, e possui cerca de 830 km2 (60 km de comprimento x 25 km de largura).
A configuração reta do canal ao norte da ilha de Maracá (Furo Santa Rosa) indica que a ilha foi formada por duas falhas neotectônicas adjacentes, uma que desviou parte do fluxo do rio Uraricoera ao nordeste e outra, perpendicular à primeira, que orientou o fluxo de volta ao canal principal. A unidade está inserida no bioma amazônico, em área de transição floresta-lavrado (savana). A maior parte da ilha (90%) é coberta por florestas, embora nas partes sul e leste sejam encontradas manchas de savana. As fitofisionomias florestais presentes na ilha incluem Floresta Ombrófila e Floresta Sazonal. A altura do dossel varia de 25 a 40m, com árvores emergentes ocasionais atingindo 50m de altura. O relevo varia de 200 m a 400 m de altitude. A diversidade de espécies arbóreas é baixa, em comparação com outras áreas da Amazônia (cerca de 80 espécies com DAP3 ≥ 10 cm em 1,5 hectares), com ocorrências de fragmentos florestais monodominantes de Peltogyne gracilipes Ducke (Milliken & Ratter, 1998). EEM é o lar de populações de espécies arbóreas ameaçadas de extinção, como Albizia glabripetala (H.S.Irwin) G.P.Lewis (CNCFlora, 2016a) e Centrolobium paraense Tul. (CNCFlora, 2016b). A estação também contribui para a conservação de 22 espécies ameaçadas de extinção, além de abrigar 125 novas espécies descritas pela ciência. A unidade possui atualmente uma lista de 1.124 espécies de plantas estudadas, entre vasculares e avasculares. Mais de 1.900 espécies de invertebrados foram registradas na área da ESEC. São quase 900 vertebrados até hoje identificados, sendo 220 espécies de peixes e 28 de anfíbios. Entre os répteis, são 66 espécies, incluindo as quatro espécies de jacarés que ocorrem na Amazônia. Há o registro ainda de 442 espécies de aves, 114 espécies de mamíferos, sendo 47 de morcegos e 15 de carnívoros.
Os solos podzólicos, principalmente distróficos e com baixa saturação de base, predominam na ilha (Nortclif & Robison, 1991). Em áreas onde o solo tem baixa profundidade de penetração radicular, inundações temporárias na superfície e uma alta taxa de Mg:Ca, são observados fragmentos de florestas monodominantes. EEM está localizada na área descrita para o clima Aw (clima tropical com estação seca no inverno). No período de 1986 a 2004, a precipitação média anual registrada foi de 2091 mm (ICMBio/RR). Em geral, o mês mais chuvoso é julho e o mês mais seco, fevereiro (Nascimento, 1997). No mesmo período, de abril a setembro (estação chuvosa), a pluviosidade média foi de 1635 mm e, nos meses de outubro a março (estação seca), a média foi de 456 mm.
A EEM é utilizada para alimentação, reprodução e permanência de diversas espécies migratórias de aves e peixes como os grandes bagres amazônicos (dourada e a piraíba), que em determinada época do ano necessitam dos ambientes de corredeiras para reprodução, sobrevivência e manutenção de suas populações.
Áreas de castanhais
As parcelas permanentes localizadas em florestas com ocorrência natural de castanha do Brasil (Bertholletia excelsa Bonpl.) foram estabelecidas pela Embrapa Roraima entre 2005 e 2008, com o objetivo de estudar a dinâmica populacional e a produção de frutos e sementes em populações naturais das espécies. Cada parcela possui uma área total de nove hectares (300 x 300 m), subdividida em 144 subparcelas de 25 x 25 m, nas quais todas as castanheiras com DAP iguais ou superiores a 10 cm foram marcadas, mapeadas e medidas (diâmetro da haste e coroa, e altura total). Todas as parcelas são monitoradas anualmente desde a sua criação (2005-2008). No total, são cinco lotes, um dos quais no município de São João da Baliza, a 313 km da capital Boa Vista, e quatro no município de Caracaraí, a 135 km da capital.
O terreno localizado em São João da Baliza foi instalado em 2006 e possui 34 indivíduos marcados (densidade média de 3,8 castanheiros / hectare). A região é caracterizada pela vegetação da Floresta Ombrófila Densa e o clima é do tipo Awi (úmido tropical com pequena estação seca durante o ano), com período seco entre novembro e março (Barbosa, 1997).
As parcelas instaladas no município de Caracaraí estão localizadas ao redor do Parque Nacional Viruá. Duas parcelas foram instaladas entre 2006 e 2007 em um fragmento florestal de 400 ha, onde a densidade média das castanheiras foi estimada em 13,2 árvores por hectare, totalizando 238 indivíduos. Outras duas parcelas foram instaladas em 2008 em uma área com densidade de 6,3 árvores por hectare, totalizando 113 indivíduos. A vegetação da região foi classificada como Floresta Tropical Aberta com Palmeiras e o clima da região como Ami (tropical chuvoso, com pequena estação seca), com precipitação média anual entre 1700-2000 mm, sendo o período chuvoso entre abril e agosto.